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Seja um multiplicador da Cultura de Paz na sua escola

Seja um multiplicador da Cultura de Paz na sua escola! Um dos desafios enfrentados no ambiente escolar é a resolução de conflitos. Desde as classes iniciais, os profissionais responsáveis por mediar as relações dentro e fora da sala de aula precisam lidar com as intercorrências que geralmente acontecem entre os pequenos alunos.

Para Cultura de Paz, conflitos podem ser caracterizados como uma série de ruídos na comunicação. Por isso, existe o forte incentivo para que os atritos sejam resolvidos:

Esse movimento parte do pressuposto de que as crianças e jovens têm a possibilidade de decidir seu destino de forma autônoma, podem assumir responsabilidades e gerenciar seus conflitos. Para isso, é importante que exista uma mediação equilibrada, que possa mostrar aos envolvidos o caminho do meio.

Neste artigo, você irá conhecer a Cultura de Paz, a Justiça Restaurativa, as Práticas Circulares e compreender a importância de tornar-se e formar multiplicadores da Cultura de Paz.

Conheça a Cultura de Paz


A UNESCO, Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, foi fundada após o fim da Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de contribuir para a disseminação e manutenção da paz e segurança no mundo, através da ciência, da cultura, da educação e das comunicações.

No ano de 1999, a organização criou o Manifesto 2000 por uma Cultura de Paz e Não Violência, uma união dos programas a favor da paz que já existiam em diversos países. O Manifesto propõe a unificação global do compromisso pela paz, apresentando a responsabilidade universal pela propagação e conservação da paz no mundo.

Movimento Internacional por uma Cultura de Paz e Não-violência: O ano 2000 foi o ponto de partida para a grande mobilização, assim como foi o Ano Internacional para a Cultura de Paz. Foi neste momento que as Nações Unidas iniciou um movimento global para a cultura de paz criando uma “grande aliança” que unia todos os movimentos já existentes que já trabalhavam em prol da cultura de paz nos 8 âmbitos de ação. Este movimento vem crescendo com a Década Internacional para a Cultura de Paz e Não-Violência para as Crianças do Mundo (2001-2010).

Resolução das Nações Unidas A /RES/53/25

Essa responsabilidade se inicia de forma individual e toma maiores proporções a partir do encontro de indivíduos que na esfera pessoal já estão vivendo esse processo:

“A proposta da Cultura de Paz busca alternativas e soluções para estas questões que afligem a humanidade como um todo, não se foca na questão da violência, mas na paz como um estado social de dignidade onde tudo possa ser preservado e respeitado. Estes pontos são um dos grandes desafios da construção de uma Cultura de Paz. (…) É válido lembrar que para construir uma sociedade mais humana, é fundamental, que cada um comece por si mesmo e faça sua parte por meio de uma mudança de atitudes, valores e comportamentos que visem a construção de um mundo mais justo e melhor de se viver.”

InfoJovem

Complementando a definição do portal brasileiro Infojovem, a Cultura de Paz tem como objetivo conscientizar a população mundial de sua responsabilidade individual no movimento pacificador, incentivando o comprometimento de cada um para promover:

Com o objetivo final de reeducar o ser humano para respeitar e fomentar o respeito a todas as formas de vida e contribuir para o desenvolvimento e a expansão desses ensinamentos.

Após assinar o manifesto, a Monja Zen Budista Coen fez as suas considerações:

A Educação deve ser orientada para a Cultura da Paz, desde e principalmente dos níveis elementares. Para tanto, professores precisam de reciclagem adequada, bem como a formação de novos professores deve ser feita levando-se em conta esses valores. A saúde do planeta – tanto dos seres humanos como da natureza – deve ser cuidada, de maneira a jamais violentar a vida. A Segurança deve estar voltada para maiores oportunidades de empregos, maior justiça social com maior inclusão e nunca em mais armamentos. Devemos nos desarmar tanto física como psicologicamente, a fim de encontrarmos um nível de segurança superior, onde as causas das violências são extirpadas – não apenas seus efeitos. Procurar desenvolver a Mídia da Paz – com jornalistas, intelectuais, publicitários, artistas, promotores de eventos conscientes da influência das palavras, sons e imagens nos seres humanos e em todos os seres. Para que a Cultura da Paz seja estabelecida, teremos de preparar pessoas e equipes que possam atuar na comunidade, nas mais diversas áreas, a fim de educar para a Paz. Temos de encorajar os que desenvolvem trabalhos, estudos, obras relacionadas com a Cultura da Paz.”

Monja Coen

A Cultura de Paz não é ensinada e disseminada com a intenção de chegar a um “objetivo final”, precisará se atualizar conforme a sociedade evolua e mude as formas de agir e se relacionar. É necessário compreender que a violência é criada pelo homem e, por isso, entender que se deve cuidar da Cultura de Paz, pois ela é, assim como a violência, um produto das ações e escolhas humanas.

A Justiça Restaurativa

Idealizada nos Estados Unidos, a Justiça Restaurativa teve como um de seus pioneiros o professor americano Howard Zehr, que criou e dirigiu a iniciativa que hoje é chamada Centro de Justiça Comunitária, o primeiro programa de reconciliação entre vítimas e infratores dos Estados Unidos.

O objetivo da prática de Justiça Restaurativa é possibilitar aos mediadores novos ângulos para resoluções de conflitos, pois as técnicas antes utilizadas baseavam-se em culpabilizar o infrator e definir a ele devida punição. Esse modelo de resolução levava à utilização do dualismo para definir e julgar as ações humanas.

Buscando uma nova possibilidade de abordagem dos conflitos, a Justiça Restaurativa propõe que sejam atendidas as necessidades da vítima e do agressor, apresentando-os um panorama que os coloca:

Sugerindo, assim, um novo paradigma pacificador, transformando situações de conflito em oportunidades de aprendizagem.

A Justiça Restaurativa traz como objetivo principal, a mudança dos paradigmas de convívio entre as pessoas, (…) resgata o justo e o ético nas relações, nas instituições e na sociedade. Dessa forma, para além de remediar o ato de transgressão, a Justiça Restaurativa busca, também, prevenir e evitar que a violência nasça ou se repita.

SALMASO, 2016


Para somar, o manual do programa Escola + Paz conclui que “ao substituir culpa por responsabilidade, perseguições por encontros, imposições por diálogos, castigos por reparação de danos, (…) esse novo enfoque oferece soluções inovadoras. Por isso vem sendo considerado paradigmático não apenas como modelo de Justiça, mas como modelo mental que permite repensar o conjunto das políticas relacionadas à promoção da paz social.”

A seguir, veja um exemplo da mediação, antes realizada somente no âmbito jurídico, em uma escola que trabalha com a Cultura de Paz

Documentário Educação para a Paz

Os Círculos de Paz e as Práticas Circulares

Sabe-se que os Círculos de Paz também têm origem na cultura dos ancestrais indígenas norte-americanos, que realizavam e realizam até hoje círculos de diálogos, reuniões que acontecem com a presença de todos os membros da tribo, no formato de uma roda e tem como objetivo discutir e conversar sobre questões relevantes para a comunidade.

Saindo da esfera judicial, as práticas circulares não são realizadas apenas na resolução de conflitos, sua proposta é a produção da comunicação com uma abordagem não violenta e a escuta sensível, estimulando a saudabilidade em qualquer dinâmica de convivência em grupo.

Os Círculos de Paz são mais do que uma ferramenta de prevenção e tratamento de conflitos. Eles também podem ser vistos como estratégia de aprendizagem da Cultura de Paz. Uma pedagogia ativa, dinâmica, aplicada pelos próprios interessados, sem intermediários e em tempo real, aos fatos da sua própria vida, atendendo às suas próprias necessidades. Vistos assim, os Círculos podem ser compreendidos então não apenas como “práticas restaurativas”, mas como um processo de aprendizagem da cultura da paz colocada em prática.

Escola+Paz

A intenção é que seja criado um espaço seguro de fala, escuta e silêncio, em que as vulnerabilidades humanas apareçam e possam ser compartilhadas sem receio do julgamento e sem vergonha dos sentimentos mais íntimos. O bastão de fala reforça esse propósito, pois dá ao indivíduo que o possui a segurança de que ele será ouvido até o final de seu argumento, seus pensamentos serão expostos sem interrupções ou julgamentos e poderão ser ouvidos empaticamente e absorvidos pelos outros membros do círculo. Tornando clara a ligação da prática com a Cultura de Paz.

Com essa estrutura, os Círculos de Paz podem ser realizados para:

Criando-se um espaço seguro e saudável de diálogo, onde é extremamente importante que cada indivíduo se sinta completamente à vontade para apresentar suas alegrias e limitações, suas frustrações e comemorações e, da mesma forma, receber esses sentimentos vindos de seus companheiros.

Quando é possível enxergar o outro com humanidade, são quebrados preconceitos, estereótipos, rixas e qualquer possível desentendimento ou incompreensão. Muda-se a perspectiva de competitividade para uma visão de cooperação.

Os processos circulares podem ser definidos como ferramentas práticas para quebrar paradigmas, propor mudanças e sustentá-las. Têm início e meio, mas não têm fim, pois há sempre a possibilidade de trabalhar em cima delas e aprimorar suas dinâmicas, de acordo com cada assunto ou grupo em que ela é utilizada.

Os Círculos de Paz são considerados dimensões práticas da Comunicação Não-Violenta e da Cultura de Paz. É urgente despertar e valorizar a importância desse tema no mundo contemporâneo. As relações interpessoais, por sua vez, fazem parte do autoconhecimento, pois o ser humano é, por natureza, um ser social e a prática dos Círculos de Paz torna possível aprimorar as formas de convivência e relacionamento com o outro e consigo mesmo.

O embasamento da Cultura de Paz proposta pela UNESCO, que traz à tona:

É possível observar e compreender a relevância dos processos circulares e chegar à conclusão de que é essencial que se estimule a existência de atividades como os Círculos de Construção de Paz desde os anos iniciais nas escolas.

Dessa forma, tendo como resultado a expansão do número de indivíduos multiplicadores da Cultura de Paz e da Comunicação Não-Violenta, que, por sua vez, poderão contribuir ativamente para a transformação positiva da sociedade. 

Por Thayana Freitas